SOLITUDE (Ensaio)
SOLITUDE
Ontem, quase meia noite me dei
conta que o dia se findava, que a rotina da casa me engolira o dia, que minha
vida nesses últimos anos vividos tem sido cuidar de todos à minha volta e até
dos que estão longe. É ter tido sempre um ombro amigo a acolher, é ter tido
sempre a paciência necessária de ouvir muitas vezes o vômito das palavras de
quem necessitava de catarse e assim esvaziar a mente ou tentar compreender a
razão do sufocamento, para não se perder em si mesmo. É um dom que carrego
desde sempre, são ações, sem dúvida alguma, carregadas de humanidade, contudo
me dei conta também do quanto tenho esquecido de mim, o quanto não tenho tido
tempo de alimentar a minha alma com poesia, música, artes manuais, de dançar
livremente... Fui dormir com essas reflexões.
Hoje, acordei com a disposição de
cuidar um pouquinho de mim. Preparei o café matinal para todos da casa, calcei
meu tenis, peguei meu boné e fui caminhar na beira da praia, o que já não fazia
há um bom tempo, conversar com as ondas do mar com seus fluxos e refluxos que
pareciam me responder , sentir o cheirinho da maresia entrando em meus pulmões,
sim maresia destrói fogões, geladeiras, tevês etc, - mas comprovando que todas
as coisas são dotadas dos dois lados “o bem e o mal”, adentra por minhas
narinas abrindo caminho para melhor respiração, que sensação maravilhosa!
Espantoso, logo eu que procuro viver com bom senso, morando a três quadras da
praia me permitir ser arrebatada pelos constantes afazeres e esquecer que todos
nós precisamos de um momento só nosso para apreciar a nossa solitude.
Nesse momento de contemplação,
observei um pai que brincava com sua filhinha na areia da praia. Que cena
bonita de ver! Que reconfortante é imaginar que ainda existe a figura de pais
dedicados e que provavelmente dividem com seus pares a tarefa de cuidar da
formação dos filhos para que cresçam saudáveis de corpo e alma. Fiquei um tempo
parada me encantando com a imagem e pensando o quanto seria maravilhoso que
todas as crianças pudessem desfrutar desses momentos. Voltei a caminhar e outra
imagem linda pude ver; um pai, com aparência bem jovem, carregava seu bebezinho
na bolsa canguru junto ao peito e sua mão apoiava carinhosamente a cabecinha do
rebento, dispensando qualquer legenda.
Ao caminhar, tanto indo, como retornando para
casa, não deixei de dar bom dia para cada caminhante que por mim passava e pude
perceber com certo estranhamento que, se não fosse eu a soltar um sonoro “bom
dia”, os caminhantes passariam por mim indiferentes, talvez presos em seus
pensamentos. Por que será, que gestos tão simples, mas tão importante e
saudáveis estão caindo em desuso?
Vavá Ribeiro
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